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POEMAS - MANUEL BANDEIRA

PORQUINHO-DA-ÍNDIA

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não se importava:
Queria estar debaixo do fogão
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.



O BICHO

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.



O ANEL DE VIDRO

Aquele pequenino anel que tu me deste,
- Ai de mim – era vidro e logo se quebrou...
Assim também o eterno amor que prometeste,
- Eterno! Era bem pouco e cedo se acabou.
Frágil penhor que foi do amor que me tiveste
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou,
Aquele pequenino anel que tu me deste,
- Ai de mim – era o vidro e logo se quebrou...
Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo na alma a saudade celeste...
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste...



PARDALZINHO

O pardalzinho nasceu
livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados vãos:
a casa era uma prisão,
o pardalzinho morreu.
O corpo, Sacha enterrou
no jardim; a alma, essa voou
para o céu dos passarinhos!



TEREZA
(Estrela da vida inteira)

A primeira vez que vi Tereza
Achei que ela tinha pernas estúpidas.
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Tereza de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
( Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo renascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas

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