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Língua Portuguesa




POEMA

A poesia é considerada a semente de toda a literatura, ou seja, tudo indica que a
literatura começou em forma de poesia; portanto é o gênero mais antigo de que se tem
notícia. Os antigos gregos viveram uma cultura oral que desconhecia a escrita, por isso
todo conhecimento era transmitido pela voz. Eles então desenvolveram técnicas
rigorosas de uso da voz de modo a garantir que os ouvintes entenderiam, memorizariam
e transmitiriam tudo aquilo que era falado. O modo mais eficaz para tornar isto possível
era aquele em que a palavra fosse usada com um certo ritmo e a frase tivesse um limite,
uma unidade métrica, o que significa dizer que fosse uma frase curta. Essa forma de
expressão deu origem ao que conhecemos hoje como poesia.O poeta daquela época não tem nada a ver com o conceito de poeta que temos hoje, antigamente esta figura tinha uma função social e política da qual nunca se separava: cabia-lhe garantir a circulação do conhecimento, das idéias, da cultura produzida em sua civilização. Hoje o poeta é um escritor que produz um tipo muito especial de literatura e não está a seu cargo a divulgação pessoal do que escreve.



POESIA E POEMA / VERSO E PROSA

É comum o uso das palavras poesia e poema como sinônimos, porém nem toda
composição versificada contém poesia. Além disso, a poesia não precisa
necessariamente do verso para se manifestar; podemos encontrá-la na prosa, e até
mesmo em outras manifestações artísticas como a pintura, a música, a dança etc. Isso
porque a poesia é transmitida para o leitor através da subjetividade implícita em uma
forma de expressão. As definições de Antônio Soares Amora para poesia e poema, verso e prosa são: Poesia é o estado emotivo e lírico do poeta, no momento da criação do poema; o estado lírico reviverá na alma do leitor se este lograr transformar o poema em poesia.
Poema é a fixação material da poesia; é a decantação formal do estado lírico. São as
palavras, os versos e as estrofes que se dizem e que se escrevem e assim fixam e
transmitem o estado lírico do poeta. É o encontro da poesia com o leitor.
Verso é, a grosso modo, cada uma das linhas fragmentadas, organizadas em estrofes,
que compõem um poema. Prosa é um discurso contínuo, não fragmentado, organizado em períodos e parágrafos.


Prefeitura de Salvador

POEMAS - VINÍCIUS DE MORAES

    

A PORTA



Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.
Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de sopetão
Pra passar o capitão.
Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.
Eu sou muito inteligente!
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo neste mundo
Só vivo aberta no céu.



O ELEFANTINHO








Onde vais, elefantinho
Correndo pelo caminho
Assim tão desconsolado?
Andas perdido bichinho
Espetaste o pé no bichinho
Que sentes, pobre coitado?
A estou com um medo danado
Encontrei um passarinho!



A CASA


Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na rua dos Bobos
Número zero.



AS BORBOLETAS









Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas
Borboletas brancas
São alegres e francas
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então...
Oh, que escuridão!



O PATO









Lá vem o pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o pato
Para vê o que é que há.
O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De jenipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi ´pra panela.



O RELÓGIO


Passa tempo, tic-tac
Tic-tac passa hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai embora
Passa tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já pedi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Tic-tac

POEMAS - MANUEL BANDEIRA

PORQUINHO-DA-ÍNDIA

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não se importava:
Queria estar debaixo do fogão
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.



O BICHO

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.



O ANEL DE VIDRO

Aquele pequenino anel que tu me deste,
- Ai de mim – era vidro e logo se quebrou...
Assim também o eterno amor que prometeste,
- Eterno! Era bem pouco e cedo se acabou.
Frágil penhor que foi do amor que me tiveste
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou,
Aquele pequenino anel que tu me deste,
- Ai de mim – era o vidro e logo se quebrou...
Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo na alma a saudade celeste...
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste...



PARDALZINHO

O pardalzinho nasceu
livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados vãos:
a casa era uma prisão,
o pardalzinho morreu.
O corpo, Sacha enterrou
no jardim; a alma, essa voou
para o céu dos passarinhos!



TEREZA
(Estrela da vida inteira)

A primeira vez que vi Tereza
Achei que ela tinha pernas estúpidas.
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Tereza de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
( Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo renascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas

Dia Nacional da Poesia: Castro Alves, o poeta dos escravos

O dia nacional da Poesia é celebrado no 14 de março, data de nascimento do poeta brasileiro Antônio Frederico de Castro Alves, que viu a luz em Muritiba (BA) em 1847. Estudante de Direito em Salvador e São Paulo, é o patrono da cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras.



Gigantesco defensor da República e ferrenho abolicionista ficou conhecido com o apelido, sem dúvida merecido, de "poeta dos escravos". Um dos seus poemas mais famosos, "Navio Negreiro" foi decisivo na tomada de consciência da barbárie e crueldade desta prática inumana. Lamentavelmente no século XXI, continuam a existir estes navios tenebrosos, como o que naufragou em Lampedusa, ou outros que carregam nos seus porões vitimas do tráfico humano.
 
"Gigantesco defensor da República e ferrenho abolicionista ficou conhecido com o apelido, sem dúvida merecido, de 'poeta dos escravos'".
Ainda há navios de grande porte que funcionam como montadoras em alto mar com trabalhadores semiescravos que ficam separados da terra e de suas famílias. Precisamos de poetas e profetas que denunciem este negócio rentável que já ocupa em lucratividade o terceiro lugar da economia. Não podemos sucumbir diante da globalização da indiferença, que trafica com a mão de obra, que nos rouba jovens e crianças para serem colocados no mercado da prostituição e da pornografia.

Muito embora estes crimes sejam feitos de forma oculta e clandestina não podemos deixar de nos empenhar na formação de uma rede de informação e proteção em prol destas vítimas. Todos juntos: poder público, sociedade civil e Igrejas, aliadas num mutirão e força tarefa, vamos nos unir para impedir e desmontar a nova escravidão e aviltamento de pessoas, temos que dar um basta e fazer desaparecer todos os navios negreiros e traficantes da cultura de morte.