O processo de alfabetização não envolve apenas saber a grafia correta das palavras. Quando aprendemos a escrever também reproduzimos os sinais, letras, em um suporte com ajuda de instrumentos, no caso, papel ou caneta.
Raquel Caruso, fonoaudióloga com especialização em psicomotricidade, explica que de um modo geral a escrita é uma linguagem visual expressiva. "Ela faz uso de uma série de operações cognitivas, tais como percepção auditiva, visual, discriminação tátil, cinestésica". Ou seja, este sistema converte pensamento, sentimento e idéias em símbolos gráficos.
Mas para o desenvolvimento da escrita correta existem alguns pré-requisitos, como aspectos cognitivos, afetivos, motor e de linguagem. "Entre eles, o esquema corporal, ou seja, a organização das sensações relativas ao seu próprio corpo em relação ao mundo exterior, estruturação espacial (quando a pessoa é capaz de situar-se e situar objetos uns em relação aos outros) e a orientação temporal: capacidade de situar-se em função da sucessão dos acontecimentos (antes, pós, durante)", explica a psicopedagoga. Nessa lista ainda entram noções de tempo longo e curto, além do domínio do gesto e da direção gráfica (da esquerda para direita, que no caso é usado por nós, ocidentais).
Em algumas crianças esse processo é mais difícil, algumas tem dificuldades de escrever ou copiar palavras, letras e números. As letras são ilegíveis e não seguem um padrão linear. Às vezes, as palavras no papel têm traços pouco precisos ou incontrolados. O que também pode acontecer é a falta de pressão ou os traços serem tão fortes que marcam o papel. Essas e outras características podem indicar a disgrafia (dis=dificuldade e grafia=grafar/escrever), que pode ocorrer em crianças com boas notas e facilidade de se expressar através da fala. Elas reconhecem as letras, mas não conseguem planejar os movimentos para conseguir o traçado da letra. Claro que no início da alfabetização as primeiras palavras não saem perfeitas na folha de papel, entretanto, se mesmo depois dela a escrita ainda ficar longe do que é proposto nos cadernos de caligrafia, é preciso que pais e professores fiquem alertas.
Dessa maneira é preciso que os pais observem não só a forma com que elas escrevem, pois as letras precisam ser mais difíceis de compreender do que os garranchos. Traços irregulares, fortes e fracos, letras muito distantes ou extremamente juntas, omissão delas ou mesmo a dificuldade de manter a frase em uma linha, mesmo que o caderno seja pautado, são fortes indícios de que a criança possa ter a disgrafia. Em alguns casos, segundo a fonoaudióloga, muitas crianças com conflitos emocionais usam a "letra defeituosa", para chamar atenção.
Para atestar a disgrafia é feito um teste específico. Se o resultado é positivo, as crianças devem fazer um tratamento com um psicólogo e fonoaudiólogo, que tem como objetivo reeducar a escrita da criança. "Os exercícios de pré-escrita e grafismo são necessários para aprendizagem das letras e números. Sua finalidade é fazer com que a criança atinja o domínio do gesto e do instrumento, a percepção e a compreensão da imagem a reproduzir. É importante que o indivíduo seja estimulado a realizar exercícios para o ombro, como movimentos de abrir e fechar com o brinquedo vai e vem, cotovelo (peteca), punho, mão e dedos", explica Raquel. Também são feitas atividades manuais, como desenhos, pinturas e esculturas com argila e massinha.
"Na sala de aula, os professores fazem o treinamento com objetos na vertical, usando lousa, pincéis, giz de cera e canetas hidrocor", acrescenta a fonoaudióloga. Isso para criança aprender a segurar o lápis corretamente. Geralmente entre seis e oito meses, a letra já começa a ficar legível. Portanto, quando você observar o caderno do seu filho e ver apenas garranchos não o repreenda logo de cara. Observe o seu desenvolvimento e converse sempre com os professores.
Por Juliana Lopes
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